terça-feira, 16 de novembro de 2010

Dos meus anseios de virginiana

Tem gente que me entende muito melhor que eu mesma. O chico, o drummond, o rosa, o bandeira, o caiero são exemplos disso, fazem meus sentimentos morderem a isca das palavras (a clarice!). Hoje descobri mais uma, a Lygia Fagundes Telles (nem não conhecia nenhum escrito dela).

Como boa virginiana que sou, tenho ânsia por organizar coisas dentro de mim (embora as de fora, não raro, fiquem bem bagunçadas também). Dizia um dia isso pra Maria, uma amiga, contava que eu queria etiquetar algumas histórias, alguns sentimentos, e colocá-los num arquivo bonitinho, simétrico, com etiquetas coloridas separadas por assunto, rs. É uma vontade de entender, de controlar, de anular o irracional e a falta de controle sobre mim e sobre o mundo, um maniqueísmo inocente - de quem quer ver o mundo mais rosa, uma paranóia de quem se irrita quando os livros não estão alinhados na prateleira, não consegue ler texto não justificado, ou será que é o medo de andar de avião Zuózuó? De todo jeito, o mundo é mesmo muito misturado!

E como disse que tem gente que me expressa bem melhor que eu mesma....

"Ah, se eu pudesse me arrumar por dentro,
tudo calminho nas gavetas." Lygia Fagundes Telles
 
"Que isso foi o que sempre me invocou, o senhor sabe: eu careço de que o bom seja bom e o ruim ruim, que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza! Quero os todos pastos demarcados... Como é que posso com este mundo? Este mundo é muito misturado." Guimarães Rosa

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Reflexões de um liquidificador et gourmandises à BH

Boa pedida para uma tarde de feriado
Filme bonitinho, lembra mto o Delicatessen (do Jeunet, o mesmo diretor do Amélie), e tem uma pitada do Cheiro do Ralo. A protagonista é genial no seu papel. Se você começar a ficar entediado no meio, fica tranquilo que logo logo vem uma reviravolta e o tédio vai embora. De todo jeito, ver o ser humano da perspectiva de um liquidificador é curioso, dá para dar umas boas risadas, e o filme termina com uma mensagem bem bacana. (Palmas também para a trilha sonora!)
Ps.: Aqui em BH, o filme tá passando apenas no Cineclube (ali da Levindo Lopes), numa única sessão das 15:20, e tem um cafézinho ao lado que vende um delicioso pastel de frango com catupiry (tanto recheio que parecia um fricassé! e uma pimentinha no ponto!), para aplacar o calor seguimos para a tradicionalíssima São Domingos, onde NÃO recomendo sorvete de tamarindo, e recomendo fortemente o de nozes!

Deus (minha idéia de Deus)

Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui só há a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.

Alberto Caeiro
(Fernando Pessoa)