domingo, 31 de outubro de 2010

E agora, José? (sobre o fim das eleições)

Fui votar hoje, e voltei pra casa com a sensação ruim de quem faz uma escolha sem certeza dela. 

Nessas últimas semanas fiz tudo (ou quase tudo) que estava ao meu alcance para conseguir votar com a minha cabeça. Li, pesquisei, pensei, conversei, li dinovo, especulei, espremi a cabeça, virei a chata-da-festa-que-insiste-em-continuar-o-papo-sobre-política, meu mural do facebook virou quadro de discussão política(salutar e bonita, aliás), tive vontade de participar do abraço da contorno da Dilma, e da carreata do Serra, assisti aos debates na tv (e gostei especialmente do último, o dos indecisos -meus pares), tentei enteder a importância do superávit e ler com uma postura ativa, crítica e analítica os dados objetivos aos quais tive acesso (PIB, investimento nisso e naquilo, salário de professores, concursos para professores, efeitos da privatização, investimentos estrangeiros no Brasil, número de cargos de confiança, nomes e histórias das pessoas que fizeram ou farão parte das pastas ministeriais e dos candidatos). Confesso que o único assunto pelo qual que não me interessei muito foi a corrupção, que é triste e real no Brasil, mas, como já disse aqui, não é elemento que considero na hora da decisão - já que é uma constante de todos os lados.

Apesar de tudo isso, não votei hoje com convicção. Tenho a sensação frustrante de não ter conseguido angariar todos os elementos necessários à formação dessa convicção.

Percebi com clareza que não adianta se inteirar, se mobilizar, querer exercer o direito-dever de cidadania só na hora das eleições. A política é uma coisa que tem que ser pensada o tempo todo, o ano inteiro (e isso dá trabalho). Não tenho pretensões políticas, acho política um assunto sério demais e tratado com muito oba oba, radicalismo, subjetividade - e isso me dá preguiça.  De todo jeito, vi que não adianta querer me informar só agora. Confesso envergonhadamente que, ainda que não seja a mais alienada das pessoas que conheço, não me interessei tanto por política antes, embora já vote desde os 16 anos. Tudo isso pra dizer: acabaram as eleições mas - dum jeito meio clichê - o nosso dever cívico está apenas começando.

Espero, sinceramente, que nas próximas eleições eu tenha as vistas menos embaçadas!

3 comentários:

  1. Nandita querida,
    Falo de longe e sem nenhuma propriedade de sabedoria política, mas fiquei pensando sobre o que voce falou e venho oferecer uma parspectiva.
    Acho que a falta de conviccão do voto nessas eleições não é fruto da falta de informação, dados ou debates mas é, mais que nada, uma falta de solidez da relação missão dada- missão cumprida que "suele" pairar sobre a política no Brasil.
    Acho que a eleição do Lula foi um tiro no escuro pra muita gente, uma tentativa de provar o plano b já que a escolha mais óbvia não rendia caldo havia muito tempo. O Lula, no meu ponto de vista, conseguiu agradar gregos, troianos e psdbistas já desde o primeiro governo, o que fez da última eleição uma sopa no mel: já sabiamos o que esperar.
    O que rola dessa vez é que já não é uma questão de qual proposta é a mais sólida ou qual discurso o mais crível, mas mais que nada uma sensação de que tudo pode acontecer. Vejo - através do Facebook, espelho do pensamento classe média jovem brasileira:) - uma visão maniqueísta baseada ao meu ver num ranço pessoal-partidário favorável ou contra à candidata eleita e levo como uma tentativa geral de buscar, pela negação da oposição, essa segurança.
    Quem votou na Dilma constuma pintar o Serra de tinhoso e quem votou contra parece que ainda tem medo do PT.
    Sem querer levar pro lado pessoal, mas já levando, acho que é um caso de medo de avião (heheh): a aeronave agora começa a correr na pista e os passageiros - nossos queridos conterreaneos- se vem naquele estado de suspensao, de frio na barriga: torcem para ter feito a escolha certa - ainda que cientes e vertiginosos diante da possibilidade mínima da queda.
    Concluindo, nandita, nas palavras da minha psicóloga, acho que esse medo é normal e você não é a única.:) Apertemos os cintos and let's hope for the best!
    beijooo grande e saudoso da zozó:)

    ResponderExcluir
  2. Quanta sabedoria! Já disse e repito que o mundo merece um blog seu.

    Eu concordo com o que você disse sobre a visão maniqueísta dessa nossa geração, mas repito que é assim porque simplesmente taxar um ou outro de tinhoso é muito mais fácil do que realmente pensar e elaborar uma escolha racional, ponderada, com sua própria cabeça.

    Concordo também que esse medo é normal, e que deve ter muita gente com ele. Mas ainda tô muito convencida da importância de se envolver (minimamente) com política o ano inteiro, saber "que pasa",acompanhar mesmo, e se necessário protestar, pensar, criticar - pq acaba sendo uma coisa séria demais, e se nos foi dado a oportunidade de estudo (se somos a tal "elite intelectual), ela vem com uma responsabilidade, (penso isso com mais força ainda por estudar numa universidade pública). Sinto que tenho um compromisso com o resto do Brasil que não tem 1 milésimo do que já tive.

    ResponderExcluir
  3. Nandita linda, você sabe que fiquei muito feliz que seu voto indeciso não foi o suficiente pra eleger o Serra :), mas mesmo se fosse, acho que o importante mesmo é você ter se importado tanto de fazer a coisa certa pelo nosso país. Se todo mundo votasse com essa consciência e preocupação já tava bom demais, ainda que discordássemos.
    E concordo com você, vamos manter o debate o ano todo, vamos estar sempre ligados nas coisa, participar, melhorar o Brasil está nas mãos de cada um de nós.
    Eu, você sabe, tenho cada vez mais fé na nossa presidenta, que também me pegou no susto e que eu também rejeitei a pricípio. Vamos torcer!

    ResponderExcluir